Quem nunca foi mimado pelos avós que atire a primeira pedra. Quem nunca fez birra na frente dos pais, só para ganhar o colo do avô que também atire uma pedra. É deliciosa a relação entre netos e os avós. Carinho, compreensão, cuidado, e muitos, muitos presentes, fazem parte deste convívio fundamental para o desenvolvimento de crianças, jovens e adolescentes.
Lembro com saudades de uma história vivida com a minha avó, a dona Bertulina. Quando ela morreu eu tinha apenas oito anos de idade, mas o pouco tempo de convivência com ela foi, para mim, inesquecível. Do lado da minha casa, onde moravam meus pais, irmãos, minha avó e eu, havia uma plantação de maçãs. Lindas, atraentes. Uma tentação...
Meu pai, bastante rigoroso, havia nos proibido de pegar maçãs do vizinho. Em hipótese nenhuma poderíamos nos apoderar daquelas frutos, exceto se o vizinho, dono delas, nos presenteasse com algumas. Para meus irmãos era fácil, afinal eles trabalhavam fora o dia todo e chegavam em casa apenas no cair da tarde. O problema maior era meu, já que ficava o dia inteiro de olho nas maçãs.
Mas, num determinado dia, não resisti. Pulei a cerca e entre na propriedade do vizinho. Comi uma ou duas maças. Recolhi outras duas, para levar embora e comer mais tarde. No entanto, quando voltava para meu quintal, fui surpreendido pelo meu pai, já com a cinta na mão. Irado, quando meu pai se preparava para a primeira pancada, surgiu a minha avó. Surgiu minha mulher-maravilha.
Rapidamente dona Bertulina chamou meu pai e disse para não me bater. "Eu pedi para o menino pegar umas maçãs, já que quero fazer um bolo", disse ela. "Quando o vizinho chegar, eu aviso ele e pago pelas frutas. Não precisa usar a cinta". Meu pai não acreditou muito na história, mas em respeito à vovó, ele cedeu e me deixou partir. Aliviado, com um passarinho que escapa do alçapão.
Mas não fiquei impune, pelo menos não totalmente. Minha avó me chamou na sala e teve uma conversa bem franca comigo. Mesmo de pouca idade, prestei atenção em cada uma das palavras, que me marcaram profundamente. Dona Bertulina me ensinou que não é correto entrar em lugares sem autorização, e, pior ainda, tomar posse de algo que não me pertença. Ela também reconheceu ter errado ao mentir pro meu pai e pediu que nunca mais eu a obrigasse agir na mesma forma.
Hoje, 25 anos depois, me lembrei deste fato. Fato que me fez amar ainda mais minha avó. Fato que me ajudou a ser um homem íntegro, honesto e comprometido com a verdade. Não perfeito, claro. Mas sempre buscando fazer o que é certo. E, como um bom neto, me fez admirar ainda mais o bolo de maçã da Dona Bertulina.
Boa tarde.
Belo texto. Parabéns.
ResponderExcluirDiego de Nadai